Apenas siga o fio
- Renata Araújo
- 19 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: há 5 dias
Imagine-se caminhando por um labirinto de paredes altas e sombrias. Não há mapa, nem sinal de saída. Em algum ponto oculto, vive uma criatura que mistura brutalidade e medo; metade fera, metade sombra.
Esse é o cenário do mito de Teseu: o jovem que, ao invés de recuar, decide entrar no labirinto de Creta e enfrenta o Minotauro.
Diferente dos que vieram antes dele, Teseu não entra sozinho nem às cegas.
Ele recebe de Ariadne (filha do rei Minos) um fio simples e aparentemente frágil, mas que serve como guia. Com coragem e clareza, avança, enfrenta o monstro e, graças ao fio, encontra o caminho de volta.
Essa história atravessou milênios porque não fala apenas de monstros antigos, mas dos que habitam nossa própria psique.
O labirinto é a vida que, com suas vicissitudes pode cansar e gerar a dor que confunde com o processo intrínseco de viver. O Minotauro, o sofrimento que a dor causa, e que nos devora por dentro. Teseu seria a parte teimosa de nós que, mesmo ferida, escolhe entrar e não fugir.
Sou autista, tenho fibromialgia e, viver com dor crônica, especialmente aquela que o outro não vê, é estar nesse labirinto todos os dias. A dor nos faz perder a direção, nos esgota, nos assusta. E, às vezes, parece impossível vencê-la. São palavras não ditas, decisões não tomadas, pensamentos criativos que foram deslegitimados e dissipados pela forma engessada de se ver o mundo apenas dentro da caixinha do labirinto.
Mas há o fio que mostra que o caminho da saída é passar de volta por todo o trajeto percorrido até então. Decidir enfrentar o Minotauro e voltar parece difícil, pois o caminho é obscuro, mas há esperança.
O "fio de Ariadne" pode ser um ritual, uma conversa, um tratamento, um diário, uma escuta, um local de fala que finalmente nos permite nomear todos os objetos, flores e espinhos, do processo da vida. Essa é a essência do locus de controle interno: a confiança de que, mesmo diante do caos, ainda temos algum poder de ação, apenas siga o fio!
Não podemos mudar o labirinto, mas podemos mudar o modo como o atravessamos e, quem cultiva esse olhar, não espera que a cura venha de fora. Age, investiga, persiste, toma seu lugar de responsabilidade por si e para si mesmo. E, assim, deixamos de ser apenas alvo da dor para sermos autores do próprio caminho.

Até breve! 🌻
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✍🏼 Por Rê Araújo
Filósofa da alma
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