A violência disfarçada de cuidado - abraços que sufocam
- Renata Araújo
- 6 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: há 5 dias
Em nossa cultura, o cuidado é frequentemente associado ao amor, à proteção e à segurança. Mas nem todo cuidado é, de fato, cuidadoso. Há formas de zelo que, apesar de se apresentarem como afeto, escondem um desejo de controle. São formas de violência — silenciosas, disfarçadas — que se infiltram nas relações mais íntimas, onde a confiança deveria ser o alicerce.
A violência disfarçada de proteção
Essa forma de violência acontece quando o “cuidar” ultrapassa os limites do respeito e da liberdade. Quando, sob o pretexto de proteger, alguém invade, manipula, condiciona. É um tipo de presença que não acolhe — aprisiona. E qualquer argumento parece legítimo: “é para o seu bem”, “um dia você vai entender”, “faço isso porque amo”. Por trás do tom preocupado, há coação. Por trás da intenção protetora, existe dominação. E é nessa ambiguidade que muitas pessoas crescem confusas, com a sensação constante de que amar dói — ou que ser amada é algo que exige submissão.
Quando o cuidado vira controle
Existe uma linha tênue entre proteger e dominar. E quando essa linha é cruzada, surgem os abraços que sufocam: gestos de “amor” que limitam, oprimem, anulam, impedem o crescimento, a autonomia e a construção da identidade. E isso não vem apenas de pais e mães. Pode vir de irmãos, avós, professores, parceiros. De qualquer pessoa que use o cuidado como justificativa para impor sua verdade sobre o outro.
Violência emocional: invisível, mas profunda
Nem toda violência deixa hematomas. Algumas feridas são invisíveis, mas doem como cicatrizes na alma. Críticas disfarçadas de conselho, chantagens emocionais, silenciamentos sutilmente impostos. Um cuidado que humilha, invalida e enfraquece a confiança da pessoa em si mesma. Ao longo do tempo, essa convivência leva à dependência emocional, à confusão interna e ao adoecimento psíquico. E o pior: a pessoa passa a duvidar da própria percepção. Começa a se perguntar se exagera, se está sendo ingrata, se o problema é ela.
Escolher a própria saúde ainda é tabu
Quantos de nós já fomos ensinadas a sentir culpa por escolher o próprio caminho? A carregar o fardo de sermos vistos como ingratos ou desleais? Quantas vezes silenciamos nossas dores para manter a aparência de uma família funcional? Quando a obediência é confundida com amor, qualquer tentativa de romper esse ciclo parece uma traição. Mas não é. Romper o silêncio é um ato de maturidade. Escolher a si mesmo não é abandono — é reparação.
Cuidado não deve ferir
O cuidado verdadeiro não exige obediência cega, nem gera medo. Ele se apoia no respeito mútuo, na escuta real e na aceitação das diferenças. Ele oferece espaço! Reconhecer a violência travestida de cuidado é o primeiro passo para interromper esse padrão. E, principalmente, para construir relações baseadas em confiança, afeto e liberdade. Porque ninguém deveria ter que se ferir para ser amado. Este texto é um chamado. Para que você reconheça os abraços que sufocam. E, com coragem, possa abrir espaço dentro de si para um outro gesto: o do amor que acolhe sem prender. Porque toda alma merece um lugar onde possa respirar em paz.
Até breve! 🌻
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✍🏼 Por Rê Araújo
Filósofa da alma
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